Estava sentada num banco no Palácio de Verão da Imperatriz Cixi, pois havia me perdido dos meus companheiros de viagem, quando de repente cochilei. Então acordei com um cheiro cítrico e um barulhinho, e vi que havia um velhinho chinês sentado ao meu lado, ouvindo um radinho que não era rádio, pois não tinha dial e só tocava a mesma musiquinha over and over, e comendo tangerina. Ele tava com as mão todas lambuzadas da fruta e o rosto também. Daí eu abri minha bolsa super-equipada-pra-ir-à-China* e puxei um baby wipe e ofereci a ele. Ele limpou as mãos e então abriu a bolsa dele. De dentro ele puxou um embrulho de papel-alumínio, e eu fiquei apavorada pensando ser o famoso pidan, o ovo de pato que fica 100 dias enterrado fermentando, mas pra meu alívio era somente um ovo de galinha cozido, o qual eu comi, muito satisfeita.

Então começou o - hum - diálogo. Ele perguntava e eu colocava a mão na boca e tentava dizer que não falava chines. Ele perguntava de novo e mexia as mãos e falava, falava, e eu, nada. Até que eu achei que tinha entendido ele perguntar se eu estava só, e eu tive a brilhante idéia de puxar um papelzinho e caneta da bolsa e escrever, com meu parco japonês, que estava com mais 8 amigos. Aí que o homem começou a falar, mesmo. O diálogo seguiu com ele fazendo perguntas, eu achando que as estava entendendo e respondendo escrevendo no papel.

Velhinho: - Mas por que vc está só?
Eu: - Vim com 8 amigos
Velhinho: - Mas como vc escreve em chinês e não sabe falar?
Eu: - Sou estudante, do Brasil. Escreve aqui a sua pergunta.
Velhinho - Minha mão tá tremendo
Eu: - Não falo chinês. Eu moro no Japão
Velhinho: - Ahhhhh, entendi porque vc é semi-analfabeta

E acabou o diálogo. Daí ele se levantou e começou a fazer tai-chi-chuan, usando a bengala como se fosse uma espada e deu um show e eu quase chorei.